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Conexão Humana na Era das Telas

Em uma época marcada pela forte presença das telas, nos estudos, trabalho e nas próprias interações sociais, repensar a qualidade das relações humanas se tornou uma urgência, especialmente no ambiente escolar. Como manter o olhar atento ao outro, fortalecer vínculos e promover uma educação verdadeiramente humana diante dos avanços tecnológicos?

Com esse olhar sensível, Rafael Lima, presidente do Grupo CEV, propõe uma análise sobre os impactos da era digital nas relações, com foco no contexto educacional. Em seu artigo “Conexão Humana na Era das Telas”, ele convida educadores, famílias e gestores a refletirem sobre o equilíbrio entre inovação, presença e propósito.

Vivemos um tempo paradoxal. A informação nunca foi tão acessível, mas conquistar atenção e engajamento também nunca foi tão desafiador. A chamada “era digital” transformou profundamente nossos modos de comunicação, aprendizagem e relacionamento, gerando desafios inéditos para toda a sociedade, especialmente em ambientes educacionais.

Recentemente, dois livros me ajudaram a compreender melhor esse cenário: “Foco Roubado”, de Johann Hari, e “Geração Ansiosa”, de Jonathan Haidt. Ambos trazem reflexões cruciais sobre o impacto da tecnologia no comportamento humano, particularmente nos jovens. O excesso de estímulos digitais, a presença constante dos celulares e o uso intenso das redes sociais têm contribuído para a perda da concentração, o aumento da ansiedade e a fragilização das relações humanas – elementos que impactam diretamente o ambiente escolar.

A tecnologia nunca deve ser vista como inimiga do processo educativo, mas sim como uma aliada. Recursos digitais, quando utilizados com intencionalidade pedagógica e equilíbrio, enriquecem o ensino, facilitam o acesso ao conhecimento e geram novas possibilidades de interação. O problema não está na tecnologia em si, mas no uso descontrolado, sem mediação, que tende a desviar o foco e comprometer a qualidade da atenção.

Se os adultos — que viveram parte de suas vidas sem celulares e tablets — enfrentam dificuldades no uso controlado desses dispositivos, especialmente das redes sociais, imagine a complexidade para as crianças, que já nasceram com acesso irrestrito a essas tecnologias. Por isso, o papel dos pais e professores é fundamental para orientar o uso adequado desses recursos. 

Tecnologia nas aulas é uma realidade desde 2017, o que nos dá segurança quanto às melhores práticas para o uso saudável desses recursos. 

Uma novidade de grande impacto nos ambientes escolares é o acesso à Inteligência Artificial, que, assim como outras tecnologias, não deve ser vista como inimiga. Aqui, acreditamos que quanto maior for a disseminação do uso correto da IA, melhores serão os resultados que essa ferramenta poderá proporcionar a alunos e professores. Já capacitamos mais de 500 pessoas, entre funcionários e professores, e temos convicção de que a democratização desse conhecimento impactará positivamente nossas escolas.

Mais do que dominar ferramentas ou aplicar métodos, o educador hoje precisa fortalecer o vínculo com seus alunos. Quando o estudante se sente reconhecido, valorizado e acolhido, seu engajamento é outro. A construção de uma relação de confiança cria um espaço emocional seguro que favorece a aprendizagem, especialmente em tempos em que muitos jovens enfrentam inseguranças, pressões sociais e dificuldades de saúde mental. O professor, nesse cenário, é mais do que um transmissor de conteúdos: é uma presença significativa que pode despertar o interesse e contribuir para o equilíbrio emocional dos alunos. 

No entanto, a responsabilidade por esse processo educativo não pode recair apenas sobre a escola e os professores. As famílias também têm um papel central na formação dos hábitos e valores das crianças, especialmente em relação aos estudos e ao uso de celulares e tablets.

É em casa que os limites devem começar a ser construídos, com diálogo, acompanhamento e exemplo. Pais que compreendem os riscos do uso excessivo da tecnologia e incentivam momentos offline - de leitura, conversas, prática de esportes e convivência - contribuem diretamente para o sucesso escolar e emocional de seus filhos. 

A escola, por sua vez, precisa seguir como parceira ativa nesse processo. A recente lei que proibiu o uso de celulares nas escolas brasileiras ilustra bem como algumas medidas podem favorecer a atenção e a convivência. É nítida a melhora em diversas instituições após a implementação da norma. Muitos educadores relatam avanços no comportamento dos alunos, maior participação nas aulas e interações mais saudáveis entre os colegas.

A proibição não é um fim em si mesma, mas um passo importante para estabelecer limites e reforçar a ideia de que há momentos para o uso da tecnologia e momentos que exigem presença plena e interação humana direta. 

Ensinar e aprender na era digital é um desafio complexo, mas também uma oportunidade poderosa de repensar práticas e fortalecer vínculos. Apesar das dificuldades, é importante lembrar que a escola continua sendo um dos espaços mais transformadores da sociedade. É nela que crianças e jovens aprendem a conviver, a pensar criticamente, a desenvolver valores e a construir seus projetos de vida. Em tempos de mudanças tão rápidas, a escola permanece como referência de acolhimento e aprendizagem.

Quando alunos, professores, famílias e funcionários caminham juntos, é possível transformar o mundo por meio de uma educação com acolhimento e propósito. A conexão humana não é apenas desejável na era das telas — é absolutamente essencial. É ela que dará sentido e direção a todas as ferramentas tecnológicas que temos à disposição.

Sobre o autor:

Hoje, no Grupo CEV, Rafael Lima vive essa missão diariamente, unindo inovação, impacto social e visão de futuro. 



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